Num cenário comercial global incerto, liderado em grande parte pelas economias americana e chinesa, identifica-se uma guerra comercial de impactos significativos no mercado mundial, com reflexos no setor de eletrodomésticos e eletromóveis, afetando também o Brasil.
As tarifas impostas pelos EUA sobre produtos chineses, como componentes eletrônicos e móveis, elevaram os custos de produção e preços finais, disruptando cadeias globais de suprimentos. A China, em resposta, retalia com tarifas sobre bens americanos, reduzindo o comércio bilateral e criando incertezas que impactaram investimentos e a demanda global. Já em 2019 (no primeiro mandato de Donald Trump), um estudo da BBC descobriu que os consumidores americanos de eletromóveis sofreram elevação de 12% no preço das máquinas de lavar, por exemplo, aumentando também os preços das secadoras.
No Brasil, o setor de eletrodomésticos enfrentou desafios devido à dependência de insumos chineses como semicondutores, que sofreram aumento de custos e atrasos logísticos. Isso elevou os preços de produtos como geladeiras e TVs, pressionando a inflação e reduzindo a competitividade de fabricantes brasileiros no mercado interno e externo. Isso porque o setor envolve bens de consumo duráveis que dizem respeito a indústrias de elevado grau de processamento industrial, incorporando alta intensidade tecnológica e densidade de capital por unidade de produto, organizando-se em cadeias globais de valor.
Esse cenário afeta diretamente o setor varejista de eletromóveis no Brasil. E o papel da China no comércio brasileiro de eletrodomésticos e móveis é de grande impacto, caracterizado por sua robusta capacidade produtiva e estratégias de mercado domésticas que se refletem globalmente.
O governo chinês tem implementado programas internos vigorosos para impulsionar as vendas e promover a eficiência energética de eletrodomésticos. Como parte dessa iniciativa, são oferecidos subsídios que variam de 10% a 20% para produtos energeticamente eficientes, visando incentivar o consumo responsável e a sustentabilidade.
Tais iniciativas contribuíram para que as vendas de eletrodomésticos na China, em 2024, superassem RMB 900 bilhões (por volta de R$700 bilhões), estabelecendo um recorde. Até 19 de dezembro de 2024, aproximadamente 33,3 milhões de eletrodomésticos foram adquiridos, gerando vendas de RMB 239,1 bilhões (por volta de R$73,4 bilhões), com mais de 90% dessas vendas provenientes de produtos com eficiência energética.
Esses dados sublinham a imensa capacidade produtiva e o dinâmico mercado interno chinês para eletrodomésticos, impulsionados por políticas governamentais que também refletem um compromisso com o estímulo econômico e a sustentabilidade.
Essa vasta capacidade e a estratégia de mercado da China têm uma influência direta e significativa no mercado brasileiro, particularmente no setor varejista. A chegada de fabricantes asiáticos, sobretudo chineses, têm resultado em uma “inundação” do mercado brasileiro com produtos oferecidos a preços menores.
Um exemplo dessa repercussão no mercado brasileiro, é a empresa Casas Bahia, uma das grandes e tradicionais varejistas brasileiras de eletrodomésticos e móveis. Essa dinâmica tem sido percebida como uma boa notícia para a empresa. A capacidade de adquirir produtos a custos mais competitivos permite que a empresa faça mais promoções sem prejudicar tanto os lucros, beneficiando tanto a varejista quanto os consumidores brasileiros com produtos mais acessíveis. A empresa cita o exemplo da chinesa Jovi (Vivo) que impactou consideravelmente o mercado, com preços mais baixos e produtos inovadores. Embora a receita total de vendas possa não crescer devido aos preços menores (um celular que antes custava 899 reais poderia ser vendido por 700 reais), a varejista “vende mais telefone para fazer o mesmo tanto de dinheiro”, como disse Renato Franklin, CEO do grupo Casas Bahia, indicando um aumento no volume de vendas impulsionado pelos preços competitivos.
Com isso, observa-se que a China desempenha um papel significativo e crucial no comércio brasileiro, atuando como um gigante produtor e consumidor de eletrodomésticos em seu próprio mercado, com políticas que incentivam o consumo e a eficiência energética. Simultaneamente, seus fabricantes exercem uma forte influência no mercado brasileiro, fornecendo produtos a preços competitivos que impactam positivamente a margem lucrativa e a capacidade de oferta de grandes varejistas, a exemplo do grupo Casas Bahia, o que, por sua vez, afeta a acessibilidade de bens duráveis, incluindo eletrodomésticos e, possivelmente, móveis, para os consumidores brasileiros.
Diante disso, acompanhar as dinâmicas comerciais mundiais e as oportunidades, como as de cunho tributário em meio ao mercado, é essencial para o sucesso empresarial no setor de eletromóveis. Em um mercado globalizado e altamente competitivo, estar atento às tendências de consumo, inovações tecnológicas e mudanças regulatórias permite que as empresas se posicionem estrategicamente. Além disso, a identificação de incentivos fiscais, isenções e regimes tributários especiais, tanto em âmbito nacional quanto internacional, pode reduzir custos operacionais e aumentar a competitividade. A gestão tributária eficiente, aliada à compreensão das demandas globais por sustentabilidade e eficiência, possibilita às empresas do setor otimizar recursos, investir em inovação e conquistar mercados, garantindo crescimento sustentável e vantagem concorrencial.